Nos dias 25 e 26/09/25, participamos do evento “Workers Governing Technologies Workshop”, promovido pelo grupo de pesquisa Creative Labour and Creative Futures na Universidade de Toronto no Canadá. O encontro de dois dias presenciais reuniu atores multissetoriais para discutir a governança da tecnologia, com destaque para a inteligência artificial, pelos próprios trabalhadores das organizações que desenvolvem essas aplicações.

Em linhas gerais, a discussão buscou responder à seguinte questão: como os trabalhadores, que são diretamente afetados pela forma como as IAs são governadas, podem liderar ou participar da definição de suas políticas e práticas? Dentre as pessoas palestrantes presentes, podemos mencionar Katie Tibaldi, líder da greve de roteiristas de Hollywood, Gabriel Simeone, coordenador do Núcleo de Tecnologia do MTST, e Austin Robey, fundador da cooperativa de streaming Subvert. O encontro mesclou palestras, discussões coletivas e walking tours pelo campus da universidade. Todos os debates foram registrados pelos organizadores, que nos próximos meses proporão um documento coletivo que sintetizará os aprendizados e posições construídas pelo grupo.

A “artificialidade” da IA muitas vezes esconde o trabalho humano por trás dos sistemas, atividade fundamental em sua cadeia de valor – podem-se identificar atividades laborais em todas as suas etapas, da produção de dados à comercialização das aplicações. Além disso, cresce a discussão sobre os efeitos substitutivos das IAs Generativas, curiosamente afetando primeiro os trabalhos ditos criativos, contrariando uma expectativa anterior de que estariam mais imunes à substituição por seu caráter essencialmente humano. 

Emergem discussões no campo do trabalho, de propriedade intelectual e de concorrência para endereçar os novos desafios impostos pela disseminação em massa das IAGs. É fundamental encontrar formas de sustentar o ecossistema de informação, pois atualmente os grandes sistemas incorporam toda a informação disponível publicamente online sem a previsão de contrapartidas que garantam a subsistência da produção de informação e cultura. E, com isso, podem estar dando um tiro no pé do desenvolvimento dessas próprias tecnologias, que dependem de dados e obras como insumo fundamental para se aperfeiçoarem. É preciso balancear os ganhos sociais do desenvolvimento da IA com mecanismos de incentivo para a preservação dos comuns culturais.

Tais reflexões seguirão sendo endereçadas no escopo do nosso projeto IA com Direitos e no workshop “Impactos da IA no Jornalismo” da Data Privacy Global Conference – DPGC 2025.

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