Entre os dias 6 e 7 de julho, ocorreu a reunião da cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro, finalizando a presidência brasileira do bloco. A cúpula marca a divulgação da Declaração Final de Líderes, que este ano foi marcada por compromissos como a defesa do multilateralismo e da cooperação entre o Sul Global. Neste ano, o bloco também inovou ao divulgar a Declaração dos Líderes do BRICS sobre Governança Global da Inteligência Artificial, que se conecta com outras iniciativas da presidência brasileira na agenda digital, como o “Entendimento sobre a Governança da Economia de Dados do BRICS”, formulado pelos Ministérios de Comércio do bloco.

A assinatura de um texto específico sobre inteligência artificial (IA) para a promoção “do desenvolvimento, a implantação e o uso responsável de tecnologias de IA para o desenvolvimento sustentável e o crescimento inclusivo”  é um marco para a governança global dessas tecnologias, que tem visto outras iniciativas como a Cúpula de Ação Sobre Inteligência Artificial (IA), que ocorreu na França, em 2024, e a Cúpula de Impacto Sobre Inteligência Artificial (IA), prevista para ocorrer na Índia, em 2026. Nesse sentido, é importante que a Declaração reforce uma visão de soberania digital, bem como temas e uma linguagem ancorada em desafios que emergem em diferentes contextos no Sul Global, mas também aponte para o fortalecimento do multilateralismo e do papel da Organização das Nações Unidas (ONU) na coordenação de esforços para a governança da IA. Outros pontos de destaque da Declaração são o  incentivo ao desenvolvimento em código aberto e à proteção dos direitos de propriedade intelectual; a promoção do trabalho decente e a garantia de parâmetros para uma IA ética, como mecanismos de mitigação de vieses discriminatórios. 

Ainda, destacamos a menção ao papel fundamental da governança de dados em prol da distribuição equitativa dos benefícios do desenvolvimento da IA. Referindo-se ao documento anterior emitido pelo bloco, sobre a Governança da Economia de Dados, a declaração evoca a necessidade do estabelecimento de marcos de governança de dados “para construir confiança e conferir acesso equitativo, acordado, seguro e protegido a dados de qualidade pelos países em desenvolvimento, respeitando as estruturas legais aplicáveis relacionadas ao direito à privacidade e à proteção de dados pessoais, transparência algorítmica, direitos de propriedade intelectual e segurança nacional”. Trata-se de um entendimento alinhado a outros esforços internacionais, como o Pacto Global Digital da ONU e as iniciativas do G20, particularmente durante a presidência brasileira e a atual presidência sul-africana.

Em 2024, durante a presidência do Brasil do G20, a Data Privacy Brasil teve a oportunidade de liderar uma força-tarefa do Think 20 (T20), grupo de engajamento oficial de think tanks, focada em Transformação Digital Inclusiva. Através desse trabalho, pudemos nos engajar não só com outras organizações globais que trabalham com direitos digitais, como também com o próprio governo brasileiro, apresentando as prioridades para uma governança de dados e, consequentemente, uma governança de IA mais justa, ancorada em direitos fundamentais. A base de nossos esforços foi a abordagem de “justiça de dados”, onde se aplica a noção de justiça à forma como os dados são produzidos, coletados e utilizados, tendo especial atenção ao modo como indivíduos e grupos sociais são visibilizados ou invisibilizados, representados e tratados. Esses esforços dialogam diretamente com outro esforço conjunto já em 2025 durante a presidência brasileira dos BRICS, onde a Data Privacy Brasil contribuiu com outras entidades do Fórum Civil dos BRICS em um documento conjunto para uma IA inclusiva, em respeito aos Direitos Humanos e ao desenvolvimento.

A convergência entre a atuação da Data Privacy Brasil no G20 de 2024 e a Declaração dos BRICS de 2025 sobre governança global da Inteligência Artificial também se alinha a outras iniciativas internacionais que buscam moldar estruturas éticas e inclusivas para a governança digital. A Recomendação da UNESCO sobre Ética da Inteligência Artificial, por exemplo, propõe princípios orientados pela dignidade humana, equidade e justiça, muitos dos quais foram também destacados nas contribuições da sociedade civil no G20 e reafirmados pelos BRICS. Porém, esse documento no âmbito dos BRICS é bastante significativo tendo em vista o consenso entre países do Sul Global, alinhando-se a linguagem e prioridades já colocadas por organizações civis desses países, como a Data Privacy Brasil e demais parceiros da Aliança do Sul Global.

A Data Privacy Brasil parabeniza a liderança brasileira nos BRICS e o documento focado em IA e governança de dados, e segue na expectativa de que esse trabalho se alinhe com outras iniciativas como o Pacto Global Digital da ONU, e os esforços no âmbito do G20.

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