Em fevereiro deste ano, o The Intercept Brasil, em parceria com a Associação Data Privacy Brasil de Pesquisa, Conectas e Data Labe, lançou um edital de bolsas de Tecnoinvestigação para pessoas negras. Foram selecionados quatro bolsistas, que receberam R$ 4,500 cada para realizarem reportagens sobre o uso de tecnologias na violação  contra os direitos digitais.

A partir de casos recentes do contexto brasileiro como centralização de bases de dados e o uso de tecnologias para perseguição e criminalização de movimentos sociais pelo Governo Federal, o programa de bolsas buscou investigar os riscos à democracia brasileira e os abusos de poder pelo Estado.  As experiências dos bolsistas selecionados aprofundaram o trabalho investigativo que o The Intercept Brasil já realiza em suas produções.

Foram escolhidos dez repórteres inicialmente, a partir de suas propostas de investigação. Os selecionados, participaram de uma oficina com as entidades organizadoras do programa para auxílio na construção das pautas. Durante a capacitação foram apresentadas técnicas de investigação focadas em tecnologias de vigilância e armazenamento de dados pessoais. 

Por fim, os participantes puderam repensar suas ideias iniciais e apresentar uma proposta revisada. Quatro pautas foram contempladas com as bolsas. Ao todo o programa recebeu 244 inscrições de 23 estados e do Distrito Federal. 

Avaliar e Punir 

A primeira reportagem surgida a partir do programa de bolsas foi “Avaliar e Punir”. Escrita por Naiara Evangelo, jornalista e pesquisadora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), a matéria buscou mostrar como o racismo se manifesta entre passageiros e motoristas do aplicativo de viagens Uber

Durante oito meses Naiara apurou mapeou casos de discriminação racial. Feita no Rio de Janeiro, a investigação da repórter entrevistou 43 pessoas, sendo sete motoristas e 36 usuarios da Uber negros. De acordo com as entrevistas, 56% afirmaram ter passado por situações racistas na plataforma. 

No decorrer da matéria é exemplificado diversos casos de racismo, entre eles o caso de Marcondes Junior, motorista da Uber em Recife. O condutor teve sua parceria com o aplicativo encerrada devido a sua baixa avaliação. De acordo com ele, as notas negativas são em decorrência de problemas de pagamento e a sua cor de pele. Examinando de maneira profunda, Naiara constatou que motoristas e passageiros negros recebem as notas baixas sem explicação, o que explica o racismo sofrido por Marcondes. 

A jornalista ainda relata que a empresa se manifesta dizendo que não tem em suas métricas variáveis de raça e gênero para avaliações negativas, pois não questiona a origem étnica dos motoristas. Apesar desta “explicação” motoristas e passageiros negros continuam sendo estereotipados e sofrendo com o ideario social racista. 

Para ler o texto na íntegra, clique aqui. Em breve divulgaremos as demais reportagens.

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